Ambliopia ou olho preguiçoso: o que é e como reconhecê-lo?

Ambliopia ou olho preguiçoso: o que é e como reconhecê-lo?

O sentido da visão

O sentido da visão desenvolve-se durante os primeiros anos de vida, nos quais aprendemos a reconhecer o ambiente, as formas, as cores e a nós mesmos em frente ao espelho. Este desenvolvimento da visão nem sempre é linear e culmina aproximadamente aos 9 anos. Neste longo processo, podem surgir algumas complicações, como o que se conhece como ambliopia ou olho preguiçoso, uma descompensação entre a capacidade visual de um e outro olho. Queres saber mais sobre esta afeção? A seguir, damos-te os segredos para a reconhecer a tempo e possíveis tratamentos para reduzir o seu impacto.

O que é o olho preguiçoso?

Quando a luz atravessa a córnea, penetra pela pupila, atravessa o cristalino e chega à retina, esta transforma-se em impulsos elétricos que viajam através do nervo ótico para que o cérebro os interprete e forme as imagens do mundo que nos rodeia. Por vezes, esta capacidade de visão não é uniforme. O cérebro não é capaz de interpretar corretamente a informação que recebe por parte de um dos dois olhos. Este fenómeno conhece-se como ambliopia ou olho preguiçoso e define-se como a perda de acuidade visual de um dos dois olhos, aquele que será reconhecido como o preguiçoso.

No entanto, não é tanto que este olho em questão prefira descansar e não esteja feito para o trabalho, mas sim que, realmente, não aprendeu a ver da forma correta. Durante a fase de desenvolvimento da visão, que abrange desde o nascimento até aos 9 anos, o nosso sentido da visão vai-se adaptando e configurando, respondendo a estímulos luminosos e capturando o ambiente. Se um dos dois olhos não recebe uma imagem nítida, a sua acuidade visual não se desenvolve de forma normal, obtendo como resultado o olho preguiçoso.

Como vê uma pessoa com olho preguiçoso?

Claro que esta perda de acuidade visual num dos dois olhos não é inócua e produz algumas alterações percetivas:

  1. Perda de visão binocular. A pessoa que sofre desta condição é incapaz de calcular profundidades de campo, ou seja, aparentemente percebe o seu ambiente em duas dimensões.
  2. Saturação do olho forte. O olho que trabalha pode desenvolver de forma autónoma problemas de visão que normalmente ocorreriam em ambos os olhos.
  3. Desvios e desalinhamentos. Voltar a ler a mesma linha de um texto, inclinar a cabeça para focar ou semicerrar um dos dois olhos para ver algo com clareza são alguns dos problemas que o amblíope enfrenta.

Por que se produz o olho preguiçoso?

O olho preguiçoso não nasce, faz-se. Trata-se de uma afeção que se desenvolve durante a infância e pode ser provocada por uma série de motivos que, ao não serem tratados a tempo, desencadeiam esta perda de acuidade visual de um dos dois olhos.

  1. Presença de um obstáculo no eixo visual: Opacidades na córnea, cataratas congénitas ou doenças na retina. Todas elas são afeções que impedem a projeção de uma imagem nítida ao cérebro.
  2. Estrabismo: Neste caso, ao existir um desvio de um ou ambos os olhos, o cérebro “desconecta” o olho desviado para não ver uma imagem duplicada.
  3. Anisometropia: Refere-se à diferença em dioptrias que um olho apresenta em comparação com o outro. Ou seja, um deles tem mais graduação e, por isso, a imagem percebida é mais turva. Mais uma vez, o cérebro escolhe os impulsos recebidos pelo olho com ótima visão para configurar a melhor imagem possível.
  4. Erros de refração: Defeitos óticos como astigmatismo, hipermetropia ou miopia podem ser também causa de ambliopia.

Como detetar o olho preguiçoso?

Como agora bem sabes, a ambliopia é uma patologia que se desenvolve durante a infância. Ainda que na maior parte dos casos a criança seja assintomática, existem alguns indícios que podem servir como alerta. Estes são alguns deles:

  1. Pisca ou inclina a cabeça constantemente.
  2. Semicerra muito os olhos para centrar a atenção sobre um objeto ou texto.
  3. Tem uma das duas pálpebras mais caída (ptose).
  4. Cai com facilidade.
  5. Tem dificuldade em prestar atenção enquanto lê ou realiza alguma atividade de precisão.
  6. Falha ao rececionar objetos em movimento, como bolas ou similares, por ter dificuldades em calcular distâncias e profundidades.

Se no teu caso observares que o menor apresenta algum destes sinais, é importante ir ao oftalmologista pediátrico para que este examine de forma profissional a sua visão e avalie o problema.

A ambliopia pode curar-se?

Sim, precisamente. O segredo está em diagnosticá-la a tempo. O olho preguiçoso tem cura sempre e quando se trate antes dos 9 anos, ou seja, em plena fase de desenvolvimento visual. Assim, é muito importante que as crianças vão aos rastreios periódicos com o oftalmologista para que este avalie a motilidade ocular, as pálpebras e os possíveis defeitos de refração para controlar se existem anomalias num dos dois olhos ou deficiências na sua acuidade visual.

Por sua vez, um dos tratamentos mais eficazes e recorrentes para o olho preguiçoso é a penalização oclusiva do olho saudável com a utilização de um penso. Desta forma, força-se a que o cérebro recolha as imagens do olho preguiçoso para que aprenda a “trabalhar” de maneira eficiente. Outra alternativa ao penso é o uso de óculos ou gotas que turvam a visão nítida do olho saudável. Com isto, consegue-se que o olho amblíope desenvolva a acuidade visual necessária e aprenda a ver corretamente equiparando a sua habilidade ao olho forte.

Por outro lado, o olho preguiçoso em adultos não apresenta uma solução definitiva. No entanto, existem algumas técnicas centradas no desenvolvimento da plasticidade cerebral que têm por objetivo a melhoria da visão espacial. Atualmente estão a ser levados a cabo estudos em torno da implantação de lentes intraoculares que poderiam chegar a melhorar a visão de adultos amblíopes.

Em definitiva, na ambliopia ou olho preguiçoso o mais importante é dispor de um diagnóstico precoce. Desta forma, as deficiências de acuidade visual do olho preguiçoso podem chegar a ser reconduzidas e eliminadas dentro do período de aprendizagem visual. Assim, visitar de forma regular o oftalmologista durante a infância é essencial para detetar a tempo o olho preguiçoso e evitar que este se prolongue até à fase adulta.